A Associação Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) acusa lideranças políticas ligadas ao frigorífico JBS de substituir técnicos que ocupam cargos dentro do Ministério da Agricultura (Mapa) por apadrinhados políticos em funções estratégicas com o objetivo de beneficiar grandes empresas do setor e fazer caixa dois a partidos.

O caso mais recente apontado pela entidade foi a substituição do veterinário Ênio Marques, de notórios serviços prestados ao país, pelo advogado Rodrigo Figueiredo na Secretaria de Defesa Animal (DAS), considerada a mais importante da pasta.

Em entrevista ao Olhar Direto/Agro Olhar, o presidente da entidade, Wilson Roberto de Sá não mede palavras para acusar Figueiredo de ter sido indicado para “operar esquema” que pode beneficiar o frigorífico JBS. Wilson Sá lamenta que a imagem do ministério já tenha sido arranhada durante a gestão do ex-ministro Wagner Rossi e que nada está sendo feito para reorganizar a casa.

“Não se apurou nada, empurraram tudo para debaixo do tapete e ficamos com a imagem ruim perante a sociedade brasileira. Agora estamos vendo a nomeação do secretário de defesa agropecuária, que não conhece absolutamente nada e que o histórico dele é histórico de montagem de esquema. A gente ouviu histórico dele de parlamentares, de que ele foi secretário executivo do Ministério das Cidades e é um especialista nisso”, declara.

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“A gente fica estarrecido quando a coisa já vem acontecendo já algum tempo no Mapa. Agora resolveram operar isso, fazer um grande aparato. O Mapa está sendo tomado de assalto. Não é somente a Secretaria de Defesa Agropecuária. Secretaria de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, secretaria de Relações Internacionais”, denuncia.

Estarrecido com a nomeação de Rodrigo Figueiredo, o presidente da Anffa afirma que o Brasil está perdendo a oportunidade de colocar o País a limpo.

“Parece que não estão acreditando nas ruas, de que o Brasil está vivendo um momento histórico de passar a limpo todas essas situações e é assolado. É um cidadão de uma outra área profissional que assume a secretaria. Um advogado. Não tenho nada contra advogado, até respeitando muito, mas um advogado que não entende muito de febre aftosa, da helicoverpa que está aí em 18 estados, do bicudo do algodão, que não entende de ferrugem asiática da soja, ele não entende encefalopatia que ataca rebanhos bovinos, etc. É um absurdo isso que estamos assistindo”, salienta.

Segundo ele, as próximas secretarias a terem nomes indicados politicamente a pedido do frigorífico JBS são a Secretaria de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo e a Secretaria de Assuntos Internacionais, além de quadros técnicos de terceiro e quarto escalão.

“As notícias que a gente têm é de que todos os cargos da área técnica estão ou serão ocupados por partidos políticos, manobras visando outras finalidades que não aquelas de área técnica. Tivemos informação de que já há indicação para os departamentos técnicos. Mais absurdo ainda. A próxima será a Secretaria de Assuntos Internacionais. A SDC, a Secretaria de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo também. E os departamentos de inspeção de produtos de origem animal. Existe um acordo com o JBS Friboi para indicar cargos”, completa.

Na última semana a Anffa Sindical apresentou denúncia na Câmara dos Deputados, na Procuradoria Geral da União e na Controladoria Geral da União contra o ministro Antônio Andrade acusando-o de pressionar funcionário de laboratório em Minas Gerais a entregar a deputados do PMDB uma lista de fornecedores de compra com o intuito de desviar recursos ao partido. Fiscais federais agropecuários ligados à Anffa estão em greve há uma semana em protesto contra a politização no Mapa.