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Domingo, 28 de abril de 2024

Notícias | Pecuária

Porco ibérico é criado especialmente para fazer o presunto pata negra

Algumas receitas inventadas pelo homem foram passando de geração para geração ao longo dos séculos e se tornaram riquezas da gastronomia.

Em Estremadura, no sudoeste da Espanha, fronteira com Portugal, o solo pobre e pedregoso da região sustenta um bosque primitivo, moldado pelo homem, pela natureza e pelos animais há milhares de anos.

No lugar predominam as castanheiras, também chamadas de incinas, árvores que produzem as bolotas, alimento preferido do porco ibérico. Nos meses de novembro e dezembro, as bolotas, que em espanhol se diz bellotas, amadurecem e caem no chão. Com extrema habilidade, os porcos retiram a casca amarga e comem só a polpa, principal responsável pelo sabor inconfundível do presunto de bolota, o pata negra, iguaria que no Brasil pode custar mais de R$ 200 o quilo.

O nome científico da incina, também chamada de azinheira, é quercus ilex. Ela é parente do carvalho, de onde se tira a madeira para a fabricação de tonéis de vinho, e do sobreiro, espécie mais comum em Portugal, onde a casca cortiçosa é usada na fabricação de rolhas. Os fiscais da Associação dos Criadores exigem que 40% do peso de engorda do porco seja proveniente só da ingestão de castanha. Nessa fase, é proibido dar outra comida aos animais.

Santiago Fernandes tem 360 porcos no ponto de engorda. Os fiscais que examinam a qualidade do rebanho podem chegar a qualquer momento na propriedade, inclusive aos domingos, para verificar a quantidade de bolota no campo. Se considerarem que há poucas bolotas para o número de animais, todo rebanho é desqualificado.

Outra exigência dos fiscais para a fabricação do presunto de bolota e de que os porcos sejam animais puros da raça ibérica. O porco ibérico faz parte de um agrupamento racial que se formou na pré-história, época também chamada de pedra polida, quando o homem inventou a agricultura e domesticou os primeiros animais.

O porco pertence a um tronco chamado de mediterrâneo, que se estabeleceu na Espanha e em uma pequena parte de Portugal. Ele também é chamado de pata negra por causa da manchinha escura que envolve os cascos.
Os animais são abatidos com 150 quilos, aos 16 meses de idade. Na Espanha, porcos de raças modernas, criados em confinamento, levam a metade do tempo para atingir o mesmo peso, mas em compensação, a carne do porco ibérico, usada para produzir o presunto, vale até 100% mais.

Em um frigorífico especializado no abate do porco ibérico, os veterinários do Ministério da Agricultura fazem o controle sanitário e conferem os dados de rastreabilidade dos animais contidos em um código de barras. Todos são registrados como Produto de Denominação de Origem.

Depois do abate, as peças são separadas. Os pernis e as paletas, que são as partes dianteiras, são separados para o preparo do presunto. Depois de retirar o excesso de gordura, as peças são mergulhadas em um tanque de sal marinho. Acomodadas em camadas, são levadas para um depósito climatizado, onde passam 10 dias. Então, são lavadas para retirada do excesso de sal, mas é na maturação lenta que a carne vai perdendo água e gordura. Os presuntos descansam com temperatura, ventilação e umidade controladas. O processo todo leva, no mínimo, três anos.

De seis em seis meses, os presuntos tomam outro banho de azeite de oliva, o que evita o aparecimento de ácaro que pode estragar a carne.

A Espanha produz hoje 1 milhão de peças de presunto pata negra por ano. Só um dos frigoríficos produz 420 mil peças.
O presidente da cooperativa dos criadores de Fregenal de la Sierra, Paco Rodrigues, diz que os maiores consumidores do presunto de bolota são os próprios espanhóis, em cuja mesa ele não pode faltar. “Quem prova este presunto nunca mais esquece. Ele provoca uma explosão de aromas na boca e a gordura entremeada nas fibras tem sabor de castanha, é suave e pode ser consumida sem culpa porque sabemos que faz bem ao coração”, diz.

Hoje, os criadores espanhóis têm 200 mil matrizes do porco ibérico. Graças à preservação da raça, a Espanha fatura milhões de euros com a fabricação do presunto de bolota, gerando emprego e renda no campo e na cidade.

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