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Alto custo e queda de qualidade: empreendedoras do ramo de doces sofrem prejuízo com aumento no preço do leite e derivados

Da Redação - Pedro Coutinho Bertolini

O preço do litro do leite saltou de R$ 6,20 para R$ 7,84, segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio-MT), desde o início de maio, o que representa aumento de 26% aos consumidores em Mato Grosso. Os aumentos se justificam, principalmente, por conta da menor oferta do produto nos laticínios, o que se deve, também, à elevação dos custos de produção. Isso tem afetado diretamente a todos, especialmente microempreendedoras do ramo gastronômico que tiram seu sustento com a venda de doces que utilizam o leite e derivados para sua produção. Para as proprietárias dos negócios Milena Urel Confeitaria e Dona Lou Doces, a elevação nos valores pode causar perda de clientela.
 
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Dona do empreendimento Milena Urel Confeitaria, que vende “bolos e doces feitos com muito amor”, disse que a situação é revoltante. Ela contou ao AgroOlhar&Negócios o que em janeiro deste ano, pagava aproximadamente R$ 3,79 no leite condensado e agora está comprando por R$ 6,30 – quase o dobro.

Ela ainda pontuou que além dos aumentos nos preços, por outro lado, os produtos estão tendo queda na qualidade. “Antes usávamos o leite integral em 8% de gordura. Eles conseguiram, e não é só uma marca, mas todas as marcas, foram diminuindo a qualidade, colocando o leite condensado semidesnatado e diminuindo a porcentagem de gordura. Ou seja, diminuindo a porcentagem do leite, que é a gordura do leite condensando, e assim diminuindo a qualidade do produto”.

Para “driblar” a queda no padrão dos ingredientes que usa em seus doces e bolos, ela tem utilizado outras opções para acertar o ponto e o sabor do seu brigadeiro, por exemplo.
 
“Dentro da embalagem eles falam mesmo: isso não é leite, é composto lácteo. Eles trazem com o mesmo valor ou até mais caro, mas na mesma embalagem, com outro produto. A diferença é enorme, só que você só vê quando você está fazendo, produzindo ou cozinhando com ele e aí já não tem mais volta”.
 
Sobre o leite condensado, ela apontou que a mistura láctea condensada com soro de leite, sendo vendida na mesma caixinha com a mesma marca pode enganar o consumidor, que não tem o costume de ler e acaba comprando o artigo variado sem perceber. Além disso, explicou que a produção é diretamente afetada com as variantes do leite.

“É como se fosse uma tática da indústria para enganar mesmo os consumidores. E aí quando você vai cozinhar com ele para fazer o recheio, não dá o ponto nunca. É muito mais liquido porque eles diminuíram a quantidade de gordura que tem no leite, no produto. E assim, piora o produto”.
 
Ela inclusive tentou comprar o leite condensado direto com uma distribuidora, mas teve negativa sob alegação de que a companhia só vende em caminhões diretamente para os mercados. E que os aumentos são oriundos dos problemas de produção, entressafra e distribuição. Por fim, ela disse que recebeu resposta do fornecedor dizendo que os preços só irão diminuir a partir de agosto.
 
Porém, Milena já não têm mais esperanças na diminuição diante das elevações exorbitantes que aconteceram de janeiro até julho. E isso gerou um dilema nos negócios de confeitaria, que trabalham especialmente com esses produtos.
 
Como continuar lucrando diante das variações de preço, sem aumentar os valores no cardápio semanalmente e nem perder clientes?  
 
“E como que toda semana a gente vai ficar atualizando valores no nosso cardápio para passar para os clientes? É como se a gente tivesse fazendo a mesma coisa que os mercados estão fazendo. Então o meu preço que é de janeiro, está o mesmo valor até hoje. Então estou lucrando menos, só que não tenho como ficar repassando as alterações de valores para os clientes. Porque eu posso perder cliente. Além de eles estarem comprando nos mercados com os valores subindo, e forem comprar os bolos também – com aumento toda semana – ninguém vai comprar”, lamentou.
 
Diante disso, ela preferiu por manter os preços do seu cardápio e lucrar menos para não perder sua clientela. Então, desesperançosa para com a diminuição, ela espera que em breve os valores se estagnem para, assim, poder recalcular seu planejamento técnico de preços de cada sabor em, a partir de então, aumentar um pouco os valores para os clientes.
 
“É como se a gente tivesse fazendo a mesma coisa que os mercados estão fazendo. Então o meu preço que é de janeiro, está o mesmo valor até hoje. Então estou lucrando menos, só que não tenho como ficar repassando as alterações de valores para os clientes. Porque eu posso perder cliente. Além de eles estarem comprando nos mercados com os valores subindo, e forem comprar os bolos também – com aumento toda semana – ninguém vai comprar”.

Empreendedora do mesmo ramo em Cuiabá, a proprietária do negócio “Dona Lou Doces”, que leva amor em forma de bolos de pote, brigadeiros, tortas e receitas saborosas que usam o leite em quase toda sua produção, disse que os preços estão absurdamente caros, abusivos e têm resultado em prejuízo nas vendas.

Ela disse que com o salto nos valores, teve que aumentar o preço de seus doces, “porque senão a gente fica no prejuízo”. Como o lucro já é pouco, Dona Lou pontuou que aumentar o valor do seu cardápio levou em conta que os preços do leite e derivados quase dobrou.

“O leite condensado não era cinco reais, agora já chega à 7,20, fora o leite normal. Ainda tem creme de leite, leite em pó e com isso todos os derivados aumentaram”.
 
“Fui no Atacadão hoje, porque na verdade eu tinha estoque. O aumento não estava tão abusivo. Leite, por exemplo, eu pagava 4 reais. Hoje, paguei 7,50 na promoção do Atacadão. Aumento de quase 50%. Leite condensado eu pagava 4,20, agora está 7,20 o piracanjuba. Por exemplo bolo de pote, é muito leite e creme de leite – que era 2,20 e agora está 4 reais. Os preços estão um absurdo na verdade, bem abusivos, um prejuízo para nós”, queixou-se.

Aumento na Cesta Básica

A primeira semana de julho registrou aumento de 0,58% no valor da cesta básica cobrado em Cuiabá. A alta sobre a semana anterior – a última de junho – fez o preço dos mantimentos considerados essenciais para uma família de até quatro pessoas custar R$ 698,71. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Análise da Fecomércio Mato Grosso (IPF-MT), a elevação no preço foi impulsionada pelo leite, que segue em alta desde a primeira semana do mês de maio.

É o que mostra o estudo, onde o produto lácteo apresentou elevação semanal de 3,68% e já chega a 26% no acumulado desde o início de maio, saindo de R$ 6,20 para R$ 7,84 a média do litro do leite. Outro item que demostrou alta foi a manteiga, com uma variação de 2,84%, acompanhando o crescimento do seu insumo principal.

Além deste item, a batata que apresentava queda desde a terceira semana de junho, nesta semana registrou alta de 3,85% no comparativo semanal. Segundo o levantamento do IPF-MT, 53% dos alimentos que compõem a cesta básica contribuíram para a alta semanal.

O diretor de Pesquisas do IPF-MT e superintendente da Fecomércio-MT, Igor Cunha, também destacou a elevação no preço da cesta após três semanas de queda. “Um dos fatores que elevaram o valor da cesta básica foi o leite, que apresenta alta desde a primeira semana de maio, assim como a manteiga, que acompanha os aumentos do seu insumo principal desde maio, impactando no crescimento da cesta básica”.

Ainda segundo análise do instituto, a farinha de trigo – que antes sofria impacto com a elevação de preço, decorrente do conflito entre Rússia e Ucrânia –, além do feijão e óleo de soja estão apresentando queda em seus preços, diminuindo o efeito do custo da cesta básica.
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