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Candidato critica subserviência da Fiemt e se posiciona contra fundo do governo; veja a entrevista

Da Redação - André Garcia Santana

Com críticas contundentes à atual gestão e posicionamento forte contra a criação do Fundo Emergencial de Estabilização Fiscal (FEEF), Domingos Kennedy Garcia Sales delimita seu discurso como candidato presidência da Federação das Indústrias de Mato Grosso (FIEMT). Dono da MaxMógno e MaxGold, ele preside atualmente um dos 38 sindicatos que integram a entidade. 
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Em entrevista ao Agro Olhar, o empresário garantiu enfrentamento ao Governo e outras entidades, a quem, em sua opinião, a atual administração seria subserviente em diversos momentos. De acordo com ele a Federação, presidida atualmente por Jandir Milan, é dependente, parcial e não atende mais os interesses da categoria.

Confira:

Como você define o cenário atual para o setor?

A indústria vem sofrendo muito com essa crise dos últimos dois anos. Falta um pouco mais de política, de incentivos para que o setor consiga produzir no mercado brasileiro. Eu acredito que está faltando apoio, tanto do Governo Federal e Estadual, quanto das entidades e Ministérios. Se não estivermos conectados, indo para o mesmo rumo, a gente só sofre. Existe a representatividade do setor, mas muitas vezes os impactos negativos na economia têm interferência do Governo, infelizmente.

Um exemplo positivo desse alinhamento é o Paraguai. Lá o presidente Horácio Cartes fez um projeto de industrialização sem se preocupar em arrecadar.  A preocupação era gerar empregos dentro do País. Os impostos são consequências disso. Porque o país está crescendo o seu PIB? Porque está industrializado.

Em Mato Grosso, como a Federação tem se omitido em relação a esses avanços?

A Federação, a meu ver, em alguns pontos foi omissa e poderia ter ser muito mais participativa. Há pessoas muito competentes lá dentro, que poderiam estar dando suporte ao governador, com projetos para alavancar as indústrias.

Hoje quais são as principais barreiras para o desenvolvimento industrial do Estado?

O Mato Grosso tem muitos gargalos. Nós não temos consumidores, então as indústrias que estão aqui precisavam vender a produção em outros estados, ou no exterior. No entanto, temos problemas grave de logística, uma energia muito cara, uma das mais caras do Brasil. Além disso há umagrande segurança jurídica. 

Agora o governo quer criar mais um fundo. Tudo que você pensar tem um fundo aqui e nenhum deles funciona. Nós não temos que apostar em fundo, temos que apostar no crescimento e desenvolvimento das indústrias. Se você tem mais indústrias, você gera mais emprego, e sobe a arrecadação de imposto. Os colaboradores das empresas vão comprar em supermercado, na padaria, vão comprar na farmácia. É imposto direto. As indústrias vão exportar seus produtos, as transportadoras vão gerar impostos. É uma cadeia. 

Tem todo um investimento que a empresa faz aqui. Essa questão de incentivo não é só no Mato Grosso, é no Brasil e no mundo. Ninguém vai investir no Estado se não houver condições de segurança jurídica, e condições para que o negócio se desenvolva.

Neste contexto, como o setor recebe a noticia do Fundo Emergencial de Estabilização Fiscal, que deve atingir cerca de 8% do empresariado?

O Governo está tirando essas pequenas, porque com certeza deve representar mais de 90% da arrecadação do Estado, que são as grandes empresas. Existe impacto, e isso tem que ser repassado para o consumidor. Imagina repassar 0,20 centavos para o combustível, você vai pagar mais 0,20 centavos por litro, você vai gostar?

Ninguém vai gostar. E outra coisa, vamos ficar menos competitivos e acabar vendendo menos. Não existe isso em São Paulo, não existe isso em Minas Gerais, não existe isso em outros estados. Nós vamos acabar sufocando indústria.Nós temos que repensar esse fundo, não dá para absorver.

Se você pegar o balanço das empresas, a maioria está fechando no vermelho. Então, realmente temos que apostar no crescimento e desenvolvimento da indústria. Eu não sei isso vai ser repassado para o comércio, mas acredito que ele vai pagar, e outros seguimentos vão pagar. Eu acredito que o impacto vai ser negativo.

Embora corresponda a quase metade do PIB estadual, o agronegócio é um setor que concentra muito lucratividade entre os produtores, ao contrário da indústria e serviços, responsáveis por gerar mais emprego e renda. Como você avalia isso?

Eu penso o seguinte, que o agronegócio ele é relativo. A carga tributária em cima do agronegócio realmente é muito mais baixa, parece que está em torno de 6 a 6,5, contra mais de 40% da indûstria.  Se você pegar os pequenos fazendeiros, as pequenas propriedades, estes dai pagam mais impostos. Eles compram combustíveis internamente, as peças do trator dele internamente. 

Já as grandes empresas compram tudo sem imposto, e vendem sem imposto. Talvez devesse ser pensado algo para estas grandes empresas. Tem que ser cobrado das trades e não dos pequenos empresários. O Banco do Brasil, se você olhar os grandes fazendeiros, eles estão endividados. Se ele produz menos, ele não consegue pagar as contas dele. Então, o que tem crescido muito são as grandes.

Quais seriam então os principais pontos de enfrentamento apresentados pela futura gestão da Federação?

Falta melhorar a logística, falta melhorarmos energia elétrica que são muito caras. Empreendimentos de alto consumo não se instalam aqui por esses motivos. Tem muitas empresas que a energia elétrica é o primeiro insumo dentro da linha de custo. Essa questão já vem sendo discutida faz tempo, mas não tem uma decisão. Precisamos ter uma cobrança mais incisiva e isso não se discute mais lá na federação.

O setor da indústria está com 40% da carga final tributária. O Distrito Industrial esta deserto, grandes indústrias fecharam lá, por situações financeiras. A energia aqui é cara, é caro e setor ficou quieto diante desses aumento. Opessoal prefere produzir no Sul ou no Nordeste, onde é muito mais barato. 

Eu acho que a gente não pode deixar ninguém mais sair daqui . Temos que fazer um trabalho, entender o que está acontecendo, e discutir isso, colocar na mesa. Repensar algumas questões, para que estas industrias que tem consumo alto de energia, consigam se auto sustentar aqui em Estado de Mato Grosso.

E qual tem sido o papel do Estado nesse contexto?

O Estado não tem feito absolutamente nada. Mas ai que eu falo, nós precisamos de lideres da indústria para levar um projeto ao Governo e mostrar, que você pode incentivar uma energia mais barata para as indústrias que consomem acima de um mega ou dois megas, por exemplo. Mas fica todo mundo quieto.  Para a gestão atual da FIEMT, parece que está tudo bem, tudo perfeito. Mas não é nada disso. As indústrias estão sofrendo muito, vamos acordar. Precisamos colocar na mesa a realidade das coisas.

A Federação da Indústria, assim como a Sedec, (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), não têm foco na indústria. Entrou agora o secretario Avalone, que entende um pouco mais da indústria, de como tramitam os processos dentro da Assembleia, maas não vai dar tempo de fazer nada. Precisamos de uma pessoa lá, que faça projetos, que discordee do Governo. Se não mudar essas regras, infelizmente nós não teremos condições. 

O senhor também é membro da diretoria da Fiemt. A atuação ali é restrita?

Muitos e muitos presidentes de sindicato não participam da diretoria, porque não concordam com a gestão. O presidente decidi e pronto, acabou! A gente acaba não participando das ações da federação.  A gente se reúne, mas não discuti nada.

As eleições para presidente e governador podem influenciar de alguma forma o processo eleitoral na Federação? Há simpatias por algum candidato?

Eu acredito que não. Até porque, a atual gestão do Governo tem apoio da indústria e tem sofrido muito com os aspectos negativo da sua gestão. Então, acredito que não vai atrapalhar em nada e que o Governo vá ficar neutro nesta questão, porque é um setor que sempre esteve do seu lado.

Para mim não vai atrapalhar em nada, eu tenho um posicionamento e não vou mudar em nada. Eu defendo o seguimento da indústria, não defendo Governo, não defendo meus negócios, defendo a indústria. Quem quiser trabalhar junto, vem com a gente. Esse é o caminho. 

Recentemente o nome do atual presidente da FIEMT, Jandir Milan, foi mencionado em delações. Como isso prejudica as ações da Federação?

Não posso dizer se ele realmente tem envolvimento com esses crimes ou não, mas a partir do momento em que o presidente sai das páginas econômicas e vai para as policiais, acaba maculando o nome da FIEMT, que é uma instituição transpartente que representa mais de 11 mil industrias. Não tenha duvida que isso é péssimo pra todos nós. 
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