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Notícias / Indústria

Frigoríficos mato-grossenses veem oportunidade de ganhar espaço em meio aos grandes após operação da PF

Da Redação - Viviane Petroli

A Operação Carne Fraca, que envolve grandes frigoríficos, pode ser uma oportunidade para pequenas e médias indústrias em Mato Grosso conquistarem um maior espaço em meio ao mercado nacional e internacional. Nesta semana a JBS anunciou a paralisação das atividades em 33 unidades frigoríficas no Brasil, sendo 10 no Estado.
 
A Operação Carne Fraca, desencadeada no dia 17 de março, investiga 21 frigoríficos, dos quais 18 estão localizados no Paraná, dois em Goiás e um em Santa Catarina. No dia 21 de março, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), divulgou os dados das empresas envolvidas na operação da Polícia Federal e quais as condutas investigadas (confira aqui e veja aqui, também a lista dos servidores afastados).

Leia mais:
JBS suspende produção de carne em 33 das 36 unidades no país; MT tem 10 das 11 paralisadas
 
Apesar de Mato Grosso não possuir nenhuma planta frigorífica sob investigação, o Estado tem sofrido impactos com as barreiras impostas pelo mercado externo.  Até o momento, pelo menos oito países anunciaram a suspensão de compra da carne brasileira em decorrência da operação da Polícia Federal: México, Japão, Chile, Suíça, China, Hong Kong, África do Sul e Egito. Além disso, a União Europeia e a Coréia do Sul anunciaram embargos. A Coréia, no entanto, voltou atrás da decisão.
 
Na sexta-feira, 24, Hong Kong, que já havia proibido no início da semana as importações de carne do Brasil, anunciou que retirará de seu mercado a carne brasileira supostamente adulterada e procedente dos 21 estabelecimentos investigados pela Polícia Federal.
 
Para pequenos e médios frigoríficos em Mato Grosso, apesar de haver restrições do mercado externo neste momento, a situação pode vir a resultar em oportunidades de ganho de espaço em meio aos grandes.

 Frigorífico Frigosul localizado em Várzea Grande tem SIF e exporta para lista geral de países. (Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto)
 
O Frigorífico Frigosul em Mato Grosso, que tem Selo de Inspeção Federal (SIF) desde 2012, abate em média 400 cabeças de gado por dia e de acordo com o gerente administrativo da unidade localizada em Várzea Grande, Jorge Brandão, o mix da empresa está em 30% da produção para o mercado regional, 40% para outros Estados e 30% para o mercado externo. O Frigosul possui unidades também em Aparecida do Taboado (MS) e Aparecida do Oeste (SP).
 
"Existem status para você exportar e não se consegue preencher um espaço assim rapidamente. Contudo, é uma oportunidade para pequenos e médios frigoríficos conquistarem um maior espaço”, comenta Jorge Brandão. O Frigosul, considerado uma indústria de médio porte, hoje consta na "lista geral" de países importadores, o que inclui Hong Kong e Emirados Árabes.

 Jorge Brandão - gerente administrativo do Frigosul. (Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto)
 
Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mato Grosso exportou em carne bovina US$ 152,7 milhões no primeiro bimestre de 2017, volume superior aos US$ 134,4 milhões do período em 2016. Já em carne de aves houve um salto de US$ 26,9 milhões para US$ 32,4 milhões e em carne suína de US$ 12,1 milhões para US$ 13,9 milhões.
 
A reportagem do Agro Olhar solicitou ao MDIC dados e exportações diárias para comparativa do quanto se exportava antes da Operação e para quanto passou a média diária, contudo segundo o Ministério, por meio de sua assessoria de imprensa, não há informações de exportações diárias dos Estados.
Suspensão da JBS
 
Na quinta-feira, 23, a JBS, uma das empresas sob investigação da Operação Carne Fraca, suspendeu por três dias a produção de carne bovina em 33 unidades das 36 que a empresa possui no Brasil, como o Agro Olhar destacou. Somente em Mato Grosso são 11 unidades, das quais apenas uma seguiu atividades normais de abate. A medida, segundo a multinacional, visa ajustar a produção até que se tenha uma definição quanto às embargos sofridos pelo país desde segunda-feira, 20 de março, após a deflagração da operação "Carne Fraca".
 
Para a próxima semana, a JBS projeta voltar às atividades em todas as unidades, porém com uma redução de 35% da sua capacidade produtiva. A empresa afirma ainda que trabalha para manter a manutenção do emprego de seus 125 mil colaboradores em todo o Brasil.
 
A JBS em Mato Grosso está presente e operando com a divisão JBS Carnes nos municípios de Água Boa, Alta Floresta, Araputanga, Barra do Garças, Colíder, Confresa, Diamantino, Juara, Juína, Pedra Preta e Pontes e Lacerda. Já com a divisão JBS Couros opera em Barra do Garças, Pedra Preta e Colíder. No município de Tangará da Serra a empresa está presente com a marca Seara.
 
Na quarta-feira, 22, os ministros da Agricultura, Blairo Maggi e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, foram sabatinados nos Senado. Na ocasião o MDIC revelou que a média diária de exportação de carnes que era de US$ 63 milhões, caiu para US$ 74 mil na última terça-feira (21).
 
“Se me perguntar qual o prejuízo que espero, a grosso modo, algumas contas que a gente faz preveem que o Brasil terá uma oscilação de mercado de 10%, aproximadamente. Estamos falando em números estratosféricos. Não sabemos ainda o tamanho da pancada que vamos receber”, disse Blairo Maggi, durante a audiência que reuniu as comissões de Assuntos Econômicos e Agricultura do Senado.
 
Pecuária fortalecida

Apesar dos impactos imediatos causados pela Operação da Polícia Federal com restrições do exterior e suspensão de abates, que reduzem a compra de animais, os pecuaristas mato-grossenses avaliam que a cadeia produtiva da carne sairá “fortalecida” no final.
 
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Cuiabá, Jorge Pires, a suspensão de abates e comercialização para o mercado exterior "nos preocupa muito, porque gera impacto tanto para o pecuarista quanto para a economia do estado. A cadeia produtiva da carne é uma indústria de movimentação".

 Jorge Pires - presidente do Sindicato Rural de Cuiabá. (Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto)

Na avaliação do pecuarista Ricardo Arruda “a médio e longo prazo se conseguirá reverter a situação e os impactos causados pela Operação da Polícia Federal e a cadeia produtiva da carne sairá fortalecida”.
 
Em recente entrevista ao Agro Olhar, o diretor-executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, “o que foi colocado em cheque com essa operação da Polícia Federal não foi à carne brasileira. Foi o sistema de inspeção. Tem uma diferença gigante entre uma coisa e outra. O serviço de inspeção falhou".
 
Conforme o Sindicato Das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo-MT), Paulo Belincanta, também em entrevista ao Agro Olhar, Não pode se julgar toda uma cadeia, se colocar no banco dos réus todo o produtor brasileiro e toda a cadeia produtiva brasileira, indústrias com milhares de empregos e divisas na balança comercial do país. Isso não justifica, porém isso foi posto em cheque. Coisa que nós temos consciência que absolutamente nada tem haver".
 
A operação
 
A operação da Polícia Federal denominada "Carne Fraca" foi deflagrada na manhã desta sexta-feira, 17 de março, em sete Estados (São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás), com o objetivo de desarticular organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio.
 
A operação é considerada a maior já desarticulada pela Polícia Federa. Estão envolvidos na ação aproximadamente 1100 policiais federais no cumprimento de 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão, em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.
 
As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR). Gravações telefônicas divulgadas obtidas pela Polícia Federal e divulgadas nesta sexta-feira, 17 de março, apontam que vários frigoríficos nos Estados investigados comercializavam carne estragada tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo.
 
Em torno de 30 empresas frigoríficas estão envolvidas na operação "Carne Fraca". Entre as empresas, segundo documentos divulgados pela Polícia Federal, estão a BRF, que controla as marcas Sadia e Perdigão, e a JBS, além de frigoríficos pequenos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
 
De acordo com a Polícia Federal, agentes públicos utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva.
 
As investigações ocorreram durante dois anos e dentre as ilegalidades praticadas no âmbito do setor público, denota-se a remoção de agentes públicos, com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos empresariais. Conforme a Polícia Federal, tal conduta dos agentes públicos permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente.
 
Na quarta-feira, 22, os ministros da Agricultura, Blairo Maggi e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, foram sabatinados nos Senado. Na ocasião o MDIC revelou que a média diária de exportação de carnes que era de US$ 63 milhões, caiu para US$ 74 mil na última terça-feira (21).
 
“Se me perguntar qual o prejuízo que espero, a grosso modo, algumas contas que a gente faz preveem que o Brasil terá uma oscilação de mercado de 10%, aproximadamente. Estamos falando em números estratosféricos. Não sabemos ainda o tamanho da pancada que vamos receber”, disse Blairo Maggi, durante a audiência que reuniu as comissões de Assuntos Econômicos e Agricultura do Senado.
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