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Notícias / Agricultura

Vazio sanitário da soja é essencial para combate da ferrugem asiática, afirmam especialistas

Da Redação - Viviane Petroli

O stress hídrico no período da semeadura da soja 2015/2016 "contribuiu" para uma menor incidência de ferrugem asiática em Mato Grosso. Até o momento o estado tem apenas 12 casos "confirmados" pelo Consórcio Antiferrugem, porém segundo especialistas há mais casos que ainda não foram reportados. O período do vazio sanitário da oleaginosa é considerado essencial para o combate da ferrugem asiática, hoje considerada a principal doença das lavouras de soja mato-grossenses.

A incidência de problemas sanitários nas lavouras de soja em Mato Grosso é um das grandes preocupações dos produtores. Apesar dos nematoides estarem em cerca de 80% das áreas destinadas à oleaginosa, a ferrugem asiática segue na liderança das doenças no estado. Diagnóstico do Circuito Tecnológico - Etapa Soja realizado em outubro do ano passado, quando a semeadura da soja 2015/2016 era iniciada no estado, revela que das 462 propriedades visitadas a ferrugem asiática seguia na liderança das doenças com um índice de ocorrência de 40,1% das propriedades.

Nesta safra 2015/2016, já foram confirmados 413 casos de ferrugem asiática no Brasil. O Paraná (121) e o Rio Grande do Sul (116) liberam, segundo dados do Consórcio Antiferrugem, uma vez que as chuvas estiveram presentes nestes dois estados durante a semeadura.

Dos 12 casos de Mato Grosso, quatro foram constatados em janeiro e três em fevereiro. Deste total cinco casos são em soja voluntária (soja tiguera) e sete em soja comercial.

Em 2016 a colheita da soja deverá ser realizada até o dia 20 de maio. Conforme o Indea, o plantio de soja sobre soja ou soja safrinha segue proibido. O período do vazio sanitário em Mato Grosso em 2016 será 15 de junho a 15 de setembro. 

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Conforme o pesquisador do programa de Proteção de Plantas da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, Ivan Pedro, em entrevista ao Agro Olhar, “o período do vazio sanitário precisa ser seguido à risca, tendo-se em vista que vários eventos podem ocorrer ao mesmo tempo, uma vez que o fungo é muito agressivo e vem de lavouras de fora e por correntes de ar, também”.

O pesquisador explica que a ferrugem asiática é considerada a principal doença da cultura da soja dado o potencial de perda que ela dá para a cultura. "Quando a doença não é bem controlada ou o produtor não consegue controlá-la pode-se em casos extremos registrar perdas aí de 80% por hectare. O setor de pesquisa tem trabalhado muito nos últimos anos em termos de recomendações, em termos de diferentes fungicidas dentro de uma plataforma de controle, estudos envolvendo diferentes cultivares de ciclo médio e precoces. Porém, continua sendo a principal doença".

Impacto do clima

De acordo com Ivan Pedro, o Consórcio Antiferrugem é uma ferramenta muito importante por monitorar a doença no Brasil e regiões. Entretanto, os números não são atualizados em tempo real. "Acredito que este número apontado pelo Consórcio Antiferrugem seja maior".

O pesquisador da Fundação MT explica que nesse ano safra especificamente, com o atraso das chuvas durante o plantio, a ferrugem asiática e outras doenças não tiveram condições climáticas para se estabelecer.

"Nós temos um tripé de doença que é o patógeno, hospedeiro e o ambiente, que seria o clima. Nós tínhamos o hospedeiro que no caso é a soja, o patógeno ainda não estava presente em alguns casos e o clima não estava favorecendo. Já hoje estamos vendo são algumas lavouras caminhando para o final de ciclo e colheitas de precoce ocorrendo com condições climáticas favoráveis para aparecer algumas doenças. Lavouras que já tem ferrugem na colheita é um fator que pode aumentar a possibilidade do esporo sendo carregado pelo vento. Outra condição é chuva uniforme em outras regiões que não tem uma qualidade de aplicação adequada e aí sim o cenário favorece ao patógeno”, pontua.

O pesquisador destaca ainda que ano a ano a ferrugem asiática move um comportamento diferente. "A ferrugem eu diria que é um fungo muito imprevisível no sentido de que nós temos que adotar um pacote de ferramentas de manejo preventivo, via de regra, e proativo. Por que proativo? Nós nunca sabemos quando a doença vai acontecer e depois de acontecido muda totalmente a estratégia de intervalo de aplicação, de manejo. Então, como ela não tem uma data de início e fim nós temos que estar atentos a ela até mesmo na entressafra, realizando vazio sanitário, não plantar soja, rotação de culturas, manejar essa soja tiguera em outras culturas como crotalaria, no milho, enfim são varias ferramentas que se somam".
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