Da Redação - Jardel P. Arruda
A Nexa Resources, gigante da mineração que faz parte do Grupo Votorantim, afirma que está estruturando um plano para evitar que Aripuanã, no noroeste de Mato Grosso, repita o destino clássico das cidades garimpeiras do Estado: lugares que enriqueceram rápido, entraram em colapso quando o minério acabou e passaram décadas sem arrecadação, infraestrutura ou alternativa econômica.
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A mensagem foi dada por Adriano Márcio Soares, gerente-geral de ESG, Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Nexa, durante entrevista em que defendeu o conceito de uso futuro do território. Segundo ele, a meta é preparar Aripuanã para continuar de pé quando a fase de exploração mineral terminar.
“A economia gira em torno da mineração enquanto o recurso mineral está disponível. Mas o minério é um recurso finito. Uma hora a gente deixa de explorar aquele local”, disse Adriano. “A discussão hoje é exatamente essa: como é que a gente pode provocar o desenvolvimento de diversificação econômica na cidade onde a gente atua, pensando no legado social, econômico e ambiental que a gente quer deixar para aquela região", disse Adriano, durante a Exposibram, realizada em Salvador.
Aripuanã: 80% da área preservada e mina subterrânea
O projeto de Aripuanã é greenfield, implantado do zero, e começou a operar em 2022. A mina produz zinco e cobre, é subterrânea (não a céu aberto) e dispensa o uso de barragens de rejeitos, uma mudança relevante após os desastres ambientais que marcaram o setor.
A área total do empreendimento é de 3 mil hectares, sendo 80% inserida em área de preservação da Amazônia Legal. O desafio, segundo o gerente, é manter essa extensão intocada e, ao mesmo tempo, transformar parte dela em ativo econômico sustentável no futuro.
“Oitenta por cento da nossa área hoje é área de preservação. Agora a gente está buscando olhar de que maneira a gente pode agregar valor, trazer diversificação econômica, utilizando esse potencial de área dentro da Amazônia”, disse. “Tem um mundo de possibilidades aí, mas a gente precisa aprofundar, entender melhor e pensar na vocação da região para uso futuro. É início de conversa.”
Entre as possibilidades mencionadas estão manejo florestal controlado, turismo de natureza, pesquisa, produção de mudas e geração de créditos de carbono, modelos inspirados no Legado das Águas, área de Mata Atlântica preservada em São Paulo que pertence ao Grupo Votorantim e hoje gera receita com ecoturismo e pesquisa.
“Não é só recuperar o meio ambiente, é pensar no depois”. Para Adriano, o que distingue a Nexa da lógica histórica do garimpo é o planejamento de longo prazo e a integração entre economia, meio ambiente e sociedade.
“No passado, a preocupação era só fazer recuperação ambiental depois que acabasse. Hoje não pode ser só isso. Precisa pensar no econômico, no ambiental e no social. A pergunta é: o que será da cidade quando não existir mais o recurso mineral?”, declarou.
A empresa também destaca o impacto social imediato em Aripuanã, com foco em mão de obra local e presença feminina.
“Nós temos orgulho muito grande em Aripuanã, porque temos um efetivo em torno de 20% de mão de obra feminina. Isso é resultado de desenvolvimento de mão de obra local”, afirmou.
Atualmente, a Nexa estima vida útil de cerca de 13 anos para a mina de Aripuanã com base nas reservas conhecidas. Mas, segundo o gerente, a expectativa é que novas pesquisas ampliem muito esse prazo, estendendo as operações por muitas décadas.
O raciocínio é que cada novo ciclo de exploração deve vir acompanhado de iniciativas de diversificação econômica que deem base à região quando o minério se esgotar.
“A gente não quer repetir o que aconteceu com o garimpo, que acabou e deixou cidades quebradas e doentes. O nosso trabalho é construir um modelo que garanta desenvolvimento mesmo depois do fim da exploração mineral”, resumiu Adriano.
O que ainda está em aberto
O modelo que a Nexa aplica em Vazante (MG), cidade em que opera há mais de 50 anos, serve como laboratório. Lá, a empresa já investe cerca de R$ 4 milhões por ano em projetos sociais, turismo ecológico, produção rural e pesquisa científica.
Em Aripuanã, esse modelo ainda está em fase de estudo. A empresa não revelou quanto pretende investir por ano na diversificação econômica do município.