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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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ENTREVISTA DA SEMANA

Taques avalia que cenário político atual não beneficia logística de transporte mato-grossense

Foto: Reprodução

Taques avalia que cenário políticol não beneficia logística de transporte mato-grossense

Taques avalia que cenário políticol não beneficia logística de transporte mato-grossense

“Novo na atividade político-partidária de Mato Grosso, mas não na história do Estado”. Assim Pedro Taques é introduzido àqueles que não conhecem o senador pedetista em seu site oficial. Eleito senador com mais de 700 mil votos, Taques se tornou personagem representativo daqueles que buscavam um novo suspiro na rarefeita política regional, dominada por figuras que há anos eram, ao menos na visão do povo, tradução de corrupção e outras mazelas que atacam a maioria dos representantes tão logo estes assumem o poder.

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"Não sou situação, nem oposição. Sou constituição”, frisa o parlamentar, em seus discursos. E ao que parece Taques parece não ter uma plataforma única. Fala sobre todos os setores da economia, movimentos sociais, ensejos políticos.
 
Tramita por diferentes espaços da sociedade com desenvoltura e demonstra conhecimento acerca de quase tudo.

Ex-procurador da República, participou de investigação que acabou desarticulando uma quadrilha que agia em toda a Amazônia Legal. Mais conhecido como "Caso Sudam”, o escândalo abalou a política brasileira, com a prisão do então presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB).

Ao Agro Olhar, falou sobre assuntos como a deficitária logística que acomete o estado, a relação entre desenvolvimento-educação-infraestrutura, reversão da riqueza produzida pelo agronegócio em desenvolvimento social, investimento na área de pesquisa e outros assuntos relacionados ao setor.

Confira a seguir a entrevista com o senador Pedro Taques.


Agro Olhar -
O Brasil apresenta índices de desenvolvimento agrícola acima da média mundial, e MT interpreta papel protagonista nesse cenário. Como essa riqueza pode ser revertida em desenvolvimento social?

Pedro Taques - Como tenho defendido insistentemente, a atual riqueza agropecuária somente vai reverter-se em desenvolvimento completo do Estado se pudermos criar toda uma rede de atividades trabalho-intensivas que agreguem valor às matérias-primas em que somos competitivos. Refiro-me a beneficiamento, agroindústria, de forma a transportar para fora do Estado não as matérias brutas, mas o seu produto final. Desta forma, criamos uma demanda por trabalho qualificado, que permitirá então, em círculo virtuoso, o surgimento de um setor de serviços e agricultura familiar destinado a abastecer esses novos trabalhadores incorporados à economia exportadora de alta produtividade.

Agro Olhar - Os avanços na área da pesquisa, feitos pela iniciativa privada porm eio de fundações como a Rio verde e a Fundação MT ou pelo governo por meio da Embrapa e Empaer, são essenciais para o aumento da produtividade da agricultura brasileira. Contudo, há o problema dos alimentos OMGs? O senhor vê com preocupação essa invasão de alimentos transgênicos ou encara com tranquilidade?

Pedro Taques - Certamente, a sustentabilidade ambiental da produção tem de ser uma preocupação permanente de todos nós. Não tenho posição incondicional contra os OGMs, mas vejo com muita preocupação a sua expansão na prática. Isso porque os promotores da maior parte dos atuais OGMs comercializados são multinacionais do complexo agroindustrial que têm um poder de pressão muito forte sobre o governo, o que acarreta riscos muito severos de leniência ou negligência dos cuidados ambientais necessários. É possível – e desejável – contar com OGMs em nossa agricultura, desde que o mecanismo de fiscalização dos riscos ambientais seja rigoroso, transparente, e não seja capturado pelo interesse comercial de seus produtores.

Agro Olhar - O Brasil conta com diversas ações de apoio ao pequeno agricultor, como (Pronaf), que financia compra de tratores, colheitadeiras e etc. O senador apoia estes trabalhadores em algum de seus projetos ou ao menos acompanha a política aplicada pela União em benefício desta classe?

Pedro Taques - Tenho apoiado e votado favoravelmente a todos os projetos que se destinem ao apoio ao pequeno agricultor e à agricultura familiar, bem como as políticas de amparo à comercialização de safra e ao aperfeiçoamento dos organismos do Estado que atuam na promoção e fiscalização agropecuária. Minha intervenção mais intensa em prol da agricultura, no entanto, tem sido lutar pela melhoria das condições de armazenagem e transporte da nossa produção, que representa hoje o principal gargalo da agricultura mato-grossense.

Agro Olhar - Recentemente você participou de um evento no interior do estado e discursou sobre a importância de investir na infraestrutura, e sua relação com a educação e outras áreas. Fale mais sobre isso.

Pedro Taques - Hoje, a infraestrutura de comercialização e transporte (armazéns, rodovias, ferrovias, portos e hidrovias) – ou melhor, a sua ausência – é o maior obstáculo à agricultura de nosso Estado. A falta de silos e armazéns obriga o produtor a vender a produção em curtíssimo prazo, e praticamente elimina a sua capacidade de negociação (assim como impede a gestão do fluxo de produção da agroindústria). A virtual impossibilidade de transportar a produção eleva o custo do nosso produto, e leva para fora do Estado uma grande parte da renda que poderia ser apropriada pelos próprios produtores. As prioridades do investimento em obras e instalações, tanto federais como estaduais, devem ser portanto nesse segmento, e dentro desse segmento nas principais vias de escoamento da produção. A logística de transporte e energia é uma das chaves da atração de investimentos na agroindústria e agregação de valor, pois é decisiva na decisão empresarial de investir em alguma região.

Quanto à educação, é a outra chave desse investimento. Primeiro, porque oferece ao nosso povo o recurso de maior valor para sua independência econômica, que é a qualificação para o trabalho produtivo. Além disso, porque a qualificação da mão-de-obra (e aí falo tanto da experiência profissional direta quanto, principalmente, da formação educacional de base) é o elemento central da produtividade sobre a qual se assentam indústrias e serviços de maior valor agregado.

Queremos um crescimento que incorpore a nossa gente ao mercado de trabalho, e isso exige que as atividades a serem desenvolvidas sejam de elevada produtividade. Máquinas e equipamentos são comprados “na prateleira”, e podem ser levados para qualquer parte. A localização desses empreendimentos que queremos será decidida, então, pela qualidade da formação das pessoas que habitem a nossa região. Portanto, a educação de qualidade para a nossa gente é o investimento de maior retorno econômico e social que podemos fazer.

Agro Olhar - Apesar de não ser área de atuação - você vem do jurídico, o agronegócio é algo que exige de todo político algum tipo de noção sobre o assunto. O senhor concorda?

Pedro Taques - É claro que todo político brasileiro – especialmente se atua no Mato Grosso – deve conhecer a realidade do nosso setor agrícola. Afinal, trata-se do segmento mais relevante das exportações e da renda do nosso Estado, e é a partir dele que poderemos expandir de forma sustentável a nossa economia para gerar empregos de qualidade. Para isso, procuro não somente dotar-me de uma assessoria técnica adequada, mas especialmente aprender com o diálogo junto às diferentes associações e grupos que fazem a nossa agricultura empresarial e familiar, pois eles são quem tem a informação e a sabedoria para chegar aos problemas e soluções essenciais do nosso campo.

Agro Olhar - Para finalizar, o cenário político atual beneficia de alguma forma a logística mato-grossense, grande entrave do crescimento de MT?

Pedro Taques - Infelizmente, tenho que dizer que o cenário político atual não tem beneficiado de nenhuma maneira as demandas mato-grossenses pela logística de transporte minimamente compatíveis com a nossa capacidade produtiva. Tenho denunciado insistentemente a incapacidade do governo federal de gerenciar os projetos rodoviários, ferroviários e hidroviários dos grandes eixos de transporte da nossa produção (que são, em sua grande maioria, responsabilidades federais), bem como a utilização enganosa das falsas promessas de concessão ao capital privado, que não se concretizam - ou pior, quando são tentadas, incluem sempre o uso do dinheiro público no investimento e de lucro privado na sua exploração (invertendo completamente a lógica jurídica e econômica do instituto da concessão). Tenho demandado a execução de uma política de armazenagem consistente. Tenho combatido a falta de prioridades dos investimentos públicos, que levam à promessa de trinta e sete bilhões em recursos federais para o absurdo “trem-bala” Rio-São Paulo quando não se conseguem cinco bilhões para a Ferrovia Integração Centro-Oeste (FICO) de Campinorte a Lucas do Rio Verde.

Portanto, o cenário político atual exige de todos nós continuar essa luta incessante para que o Brasil priorize o enfrentamento dos maiores gargalos de sua infraestrutura, que hoje pesam em sua maior parte sobre Mato Grosso e a região Centro-Oeste, como condição mesma para a recuperação da nossa economia.
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