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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Gastos logísticos disparam por conta de preço baixo e falta de armazém

Foto: Reprodução - Ilustração

Gastos logísticos disparam por conta de preço baixo e falta de armazém
Uma safra de milho mais volumosa que a do inverno passado começa a travar o mercado em Mato Grosso, responsável por 38% da produção nacional do cereal neste ciclo, conferiu a Expedição Milho Brasil, em viagem pelas principais regiões de cultivo. Apesar do atraso no plantio, as lavouras surpreendem com perspectiva de produtividade igual ou até maior que a de 2012 em área ampliada em mais de 20% no estado.

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Enquanto o clima de otimismo se espalha no campo, os preços do produto despencam, a comercialização estaciona e a preocupação com armazenagem aumenta. A cotação caiu mais de 10% em um mês e abriu a semana na casa de R$ 15 por saca de 60 quilos em Sorriso, na região que produz metade da safra de inverno de Mato Grosso. O preço está R$ 2 abaixo do mínimo oficial e já não cobre os custos de produção.

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Em Primavera do Leste (Sudeste mato-grossense), o aperto é ainda maior. “Precisaríamos de pelo menos R$ 15 por saca, mas hoje não conseguimos mais de R$ 12. Essa diferença é pressionada pela logística que temos”, diz o produtor Fernando Cadore, que atua na região. Ele comprometeu 60% da colheita, que começa neste mês.

“Tivemos poucas oportunidades de venda. Ano passado [com mais interesse do mercado externo], vendi 20% da safra antecipadamente. Neste ano, não comprometi nada ainda”, conta Edilson Piaia, de Campo Novo do Parecis (Oeste). O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que só 22% da produção estadual foram comercializados. O índice está 24,5 pontos porcentuais abaixo do registrado nesta época de 2012.

“A intervenção do governo é fundamental. Se não ocorrer, o produtor vai ter uma rentabilidade ainda mais baixa”, afirma a analista do Imea Bruna Lopes, que acompanhou a Expedição na viagem pelo estado. A sondagem segue por Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.

Os produtores ampliaram o investimento em tecnologia (adubação, sementes de ponta), conforme os técnicos consultados pela Expedição. Os custos estão aumentando também com os reajustes no preço do frete. “Ano passado, vendemos [mais de] 6 milhões de toneladas com um custo logístico de R$ 200 por tonelada. Hoje, a comercialização está travada e o custo subiu para pelo menos R$ 280 por tonelada”, disse Jaime Binsfeld, diretor da Fiagril, trading que atua em Mato Grosso e Tocantins e faz investimentos de R$ 90 milhões em infraestrutura.

Logística

Mato Grosso consome 3 milhões de toneladas de milho. Ou seja, terá um excedente exportável próximo de 13 milhões de toneladas do cereal de inverno. Enquanto as vendas não engrenarem, toda essa produção disputará espaço em armazéns lotados. O quadro amplia o uso de silos bolsas, embalagens descartáveis gigantes cada vez mais presentes no meio das lavouras.

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“Estamos com o dobro do volume de soja que tínhamos nos armazéns nesta época do ano passado. Só conseguimos carregar e mandar a Paranaguá quando recebemos senha, 15 dias antes da nomeação do navio”, relata Jaime Binsfeld, diretor da Fiagril. “Os produtores podem ter de segurar a colheita de milho até que haja espaço para armazenagem”, afirma.

“A operação de estocagem em silo bolsa, incluindo a compra, secagem e trabalho de armazenamento, custa em torno de R$ 1 por saca”, afirma Edilson Piaia, produtor de Campo Novo do Parecis. O investimento para guardar a produção em armazéns terceirizados é ainda maior. Pode chegar a R$ 2,10 por saca. Um armazém com capacidade para estocar 50 mil sacas exige cerca de R$ 800 mil, incluindo equipamentos principais (silo, secador, elevadores, máquina de limpeza), acessórios e obra civil (projeto elétrico, moegas, bases), conforme Manoel Luca, supervisor da Perfipar Sistemas de Armazenagem, que integra a Expedição Milho Brasil.

Crise vai exigir bateria de leilões

Sem espaço no mercado internacional como em 2012, ano de quebra nos Estados Unidos, a cadeia brasileira do milho pede socorro. A queda nos preços desde a colheita de verão passa de 20% no Paraná, onde a saca do ce­real valia ontem R$ 19,5. A tendência é que a cotação encoste no preço mínimo (R$ 17,46/sc) nos próximos dias. O governo informa que, se isso ocorrer, iniciará uma bateria de leilões para compra de 2 milhões a 4 milhões de toneladas. O setor produtivo reivindica a retirada de 5 milhões de toneladas do mercado.

Eugênio Stefanello, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná, explica que, com a retomada na produção nos Estados Unidos, as exportações do Brasil devem cair de 22 milhões (2011/12) para 15 milhões de toneladas. Essa diferença de 7 milhões de toneladas não será totalmente esgotada pelos leilões do governo.

“É um problema anunciado. Reivindicamos os leilões há cinco meses”, relata Maria Amélia Tirloni, gerente de Relações Institucionais da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). A instituição solicitou ao governo a compra de 4 milhões de toneladas do cereal via contratos de opção (por R$ 16,60/sc).

No Paraná, o setor também vê os contratos de opção como a melhor alternativa. Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas (Ocepar), estima que entre 4 e 5 milhões de toneladas precisam ser destinadas a estoques públicos. “É preciso agir no máximo até o fim de maio para que se possa segurar os preços.”

O Ministério da Agricultura negocia com o Ministério da Fazenda a compra de entre 2 milhões e 4 milhões de toneladas de milho. A Fazenda não se manifesta até que as negociações sejam encerradas. Em 2010, último ano com forte intervenção, o governo gastou R$ 836 milhões em Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro).
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