Após a vitória de Donald Trump à presidência nos Estados Unidos, o debate sobre como o aumento do dólar frente ao real e o impacto no agronegócio voltou a ser discutido. Em conversa com o Agro Olhar, a diretora-executiva do Movimento Mato Grosso Competitivo (MMTC), Vanessa Gasch, debateu sobre os prós e contras que devem afetar os produtores mato-grossenses com a valorização da moeda americana e a nova gestão do republicano.
Leia também:
MT deve produzir mais de 45 milhões de toneladas de milho com margem apertada para produtores
No primeiro mandato de Trump, a guerra comercial que foi travada contra a China favoreceu as exportações brasileiras e de Mato Grosso para o país asiático. De acordo com a economista especializada em agronegócio, o estado conseguiu dobrar o volume exportado durante a 'trade war'.
Após vencer novamente as eleições, Trump propôs uma alíquota de 60% ou mais para importações de produtos chineses e taxas de 10% até 20% para produtos de outros países. Uma das principais commodities brasileiras que pode ser beneficiada é a soja, da qual Mato Grosso é líder na produção. Com a taxação aos produtos chineses, o estado deve ser beneficiado com as exportações à China.
"Caso o novo governo dos EUA cumpra com o prometido na campanha, a relação comercial entre EUA e China deve ficar mais abalada do que já está. No primeiro mandado do presidente Donald Trump, os EUA taxaram produtos eletrônicos chineses. Em retaliação, a China impôs tarifas aos produtos agrícolas norte-americanos, o que beneficiou as exportações brasileiras para o país asiático, e, consequentemente, Mato Grosso. O estado dobrou o volume exportado para os chineses quando comparado o resultado de 2023 com 2018", disse Vanessa.
Com a eleição de Trump, o dólar frente às outras moedas emergentes ficou mais valorizado. Conforme a economista, o aumento do dólar pode beneficiar ou dificultar a vida dos produtores. Com o aumento da moeda americana, insumos e maquinários agrícolas sofrem um aumento de preço, mas, em contrapartida, o valor dos produtos exportados também sofre uma variação de preço positiva para os produtores brasileiros.
"De uma maneira geral, o aumento do dólar impacta o agro de duas formas: a primeira, pela ótica dos insumos, a alta reflete no aumento dos preços desses produtos, uma vez que a maior parte dos defensivos e fertilizantes são importados. Consequentemente, o custo de produção do produtor também sobe. Por outro lado, o aumento do dólar impulsiona os preços das commodities no mercado interno. Isso porque um dos indicadores que "formam" o preço desses produtos aqui é o dólar. Logo, dependendo do momento em que o produtor está, a alta do dólar pode prejudicar se estiver comprando os insumos, ou ajudar se estiver vendendo a commodity", ressaltou.
Vanessa Gasch explicou ainda que é necessário os produtores mato-grossenses estarem atentos ao momento em que adquirirem maquinários e insumos importados, além de utilizarem ferramentas como indicadores de relação de troca para diminuirem os riscos. Pontuou ainda que a valorização do dólar com a eleição de Donald Trump pode aumentar dívidas atreladas à moeda americana.
A economista explicou ainda que o preço das commodities não varia apenas conforme a oscilação no dólar, mas pode auxiliar no Valor Bruto de Produção. O VBP é calculado com base na produção agrícola e pecuária e nos preços recebidos pelos produtores. É um indicador que mostra a evolução do desempenho da pecuária e das lavouras ao longo do ano. Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), da terceira estimativa, apontam que Mato Grosso deve sofrer uma queda de R$ 37,95 bilhões na movimentação financeira na agricultura e pecuária em 2024.
"Como o Valor Bruto da Produção é resultado da produção vezes o preço, um aumento das cotações dos produtos agropecuários, puxado pela alta do dólar, pode refletir em um maior VBP, quando comparado ao que está sendo estimado agora. Contudo, é importante ressaltar que o preço das commodities não varia apenas conforme o dólar, e existem outros fatores que impactam as cotações. Logo, um aumento do dólar não necessariamente reflete diretamente na valorização dos preços aqui em Mato Grosso", finalizou.