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Sexta-feira, 04 de outubro de 2024

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briga por produção

'Embrapa, Elefante Branco ou Empresa de Pesquisa?', questiona a Aprosoja

Foto: Reprodução

'Embrapa, Elefante Branco ou Empresa de Pesquisa?', questiona a Aprosoja
“O que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem feito com seu orçamento público anual de R$ 3.710.887.832,00?”. O questionamento foi levantado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), nesta semana. Para a entidade, a Embrapa desperdiça dinheiro público ao não aplicar seus recursos em pesquisa científica.


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Além de apontar o mau uso do dinheiro empregado no orçamento da Embrapa, com a não realização de estudos e pesquisas científicas, a Aprosoja questiona também a necessidade de 44 unidades de pesquisa espalhadas pelo país e o quadro de pessoal, que gira em torno de quase 9 mil colaboradores.
 
“Foi-se o tempo em que a Embrapa realmente aplicava seu orçamento público em pesquisa. Esta Empresa, assim como toda estrutura pública estatal atualmente no Brasil, aplica todo seu recurso em estrutura física e de pessoal. A Embrapa se tornou um verdadeiro ‘elefante branco’, pesado como a máquina estatal, e com um custo desproporcional à sua utilidade ou valor”, afirma a Aprosoja.
 
Ainda segundo o posicionamento da Associação, mais especificamente a Embrapa Soja, não exerce a função pela qual foi criada na década de 70, que seria fomentar ciência e conhecimento, com objetivo de reduzir o diferencial entre o crescimento da demanda e da oferta de alimentos, demanda brasileira naquela época.
 
“Atualmente o que se vê é uma Empresa de pesquisa na área da soja, onde sua grande massa de pesquisadores sequer tem recurso para fazer pesquisa à campo, vivendo somente de romantismo e experiências do passado, dentro de suas salas com ar condicionado. A agricultura é dinâmica e necessita de ciência e tecnologia. É necessário que as pesquisas sejam desenvolvidas a campo, e não somente fundamentadas em notas técnicas com base em experiências. O campo é dinâmico, as mudanças são constantes, e as verdadeiras entidades de pesquisa precisam se adaptar todos os dias à velocidade dessa dinamicidade. Se é para viver somente de experiência do passado, como a Embrapa Soja, não há necessidade de tantos centros de pesquisa, um número imenso de pessoal, e um orçamento público bilionário as custas do contribuinte, já que o objetivo da verdadeira pesquisa concreta não está sendo alcançado”, destaca a Aprosoja.
 
Em nota publicada nesta terça-feira (19.05), a Embrapa se posicionou contra a pesquisa científica a campo conduzida pela Fundação Rio Verde e Instituto Agris, para fins de avaliar o melhor período para produção de semente de soja em Mato Grosso, se em dezembro ou fevereiro. A Embrapa, especificamente a sua unidade de soja, sustenta sua posição técnica baseada em pesquisas realizadas ao longo da história. Todavia, conforme a Aprosoja, quando questionada a apresentar tais pesquisas, bem como suas respectivas metodologias científicas publicadas, se omite.
 
“Apesar de provocada formalmente por diversas vezes, a Embrapa Soja nunca apresentou a metodologia e a pesquisa científica que embasou a calendarização do plantio da soja em Mato Grosso, muito provavelmente porque sequer tem essas pesquisas e resultados, o que contraria, inclusive, a Instrução Normativa nº 002/2007, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que Instituiu o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS)”, pontua a entidade.
 
Aprosoja afirma que a Embrapa Soja, assim como o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), sequer acompanharam a campo a evolução da efetividade da calendarização do plantio da soja em Mato Grosso, limitada a 31 de dezembro.  “Tanto é que o próprio Mapa, por meio da sua Coordenação-Geral de Proteção de Plantas (CGPP), pediu que na metodologia da pesquisa conduzida em Mato Grosso sobre o plantio de semente de soja em fevereiro, fosse incluída uma análise assertiva sobre genética de populações do fungo da ferrugem asiática, com fins de avaliação sobre resistência ao uso de fungicidas, e ainda, que fosse franqueado o acesso da Embrapa à pesquisa, o que foi prontamente atendido pela Fundação Rio Verde e Instituto Agris”, ressalta a Aprosoja.
 
Com a calendarização do plantio da soja em Mato Grosso, toda produção de semente que era feita no mês de fevereiro, período mais propício até por ser mais seco, migrou para o mês de dezembro, mês mais úmido e favorável ao desenvolvimento do fungo da ferrugem asiática, já que este depende de molhamento para sua sobrevivência. Desta forma, Aprosoja questiona se “a Embrapa Soja realizou nestes 5 anos de calendarização alguma análise assertiva sobre genética de populações do fungo da ferrugem asiática, com fins de avaliação sobre resistência ao uso de fungicidas nesses plantios de semente de soja de dezembro? Se sim, que os resultados sejam apresentados. Se não, mostrará mais uma vez a omissão dessa empresa de pesquisa”, pondera.
 
Vazio Sanitário 
 
A Embrapa também destacou em sua nota que “ao se semear em fevereiro, amplia-se até junho o período com plantas vivas no campo. Chamada de ‘ponte verde’, essa situação aumenta o número de gerações do fungo em uma única safra. Isso resulta na aceleração do processo natural de seleção de resistência do fungo aos fungicidas.”
 
Aprosoja esclareceu que esses plantios em fevereiro antecipam o ciclo da planta, com a soja produzida para semente sendo colhida até o final de maio, sequer adentrado no período proibitivo do Vazio Sanitário em Mato Grosso, de 15 de junho a 15 de setembro.
 
“Pois bem, o que a Embrapa teria a dizer, então, a respeito dos 62 mil hectares de cultivos de soja para produção de semente comercial, autorizados pela Mapa, com o seu aval técnico, nas várzeas tropicais do Tocantins, durante o Vazio Sanitário, na região que compreende os municípios de Lagoa da Confusão, Pium, Formoso do Araguaia, Guaraí e Dueré?”, pergunta mais uma vez a Aprosoja.
 
Conforme dispõe a Instrução Normativa nº 003/2020, da Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins (Adapec), no Estado está autorizado o cultivo de soja na safra normal de 1º de outubro a 15 de janeiro, estendendo-se a colheita até o mês de abril. Estabelecendo, ainda, que o período de Vazio Sanitário, também, no Tocantins, vai de 1º de julho a 30 de setembro. E que a autorização para semeadura de semente de soja comercial que, excepcionalmente adentra referido período proibitivo, será determinada por janela de plantio, iniciando-se em 20 de abril e finalizando em 31 de maio de cada ano como data limite, sendo obrigatória a colheita da área plantada excepcionalmente no período do Vazio Sanitário até 30 de setembro.
 
“São 365 dias do ano com planta viva de soja neste estado. Para a Embrapa Soja, isso não seria considerado ‘ponte verde’? O conceito de Vazio Sanitário estabelecido pela Embrapa Soja como sendo o período de no mínimo 60 dias sem a cultura e plantas voluntárias no campo, não estaria sendo violado?”, questiona também a Aprosoja, que também faz outros questionamentos, em relação à essa situação em Tocantins.
 
Conforme a Aprosoja, em ofício já enviado à Embrapa Soja, a Associação questionou o posicionamento técnico desta empresa pública “sobre a presença de plantas vivas de soja dentro do período proibitivo do Vazio Sanitário, e se isso representa riscos fitossanitários para os outros Estados produtores de soja, bem como se a Embrapa tomou parte, contribuindo tecnicamente para a liberação dos plantios para semente de soja durante o período do Vazio Sanitário nas várzeas tropicais do Tocantins. Solicitou, também, a disponibilização dos relatórios técnicos e publicações científicas que embasaram essa liberação, e se houve análise assertiva sobre genética de populações do fungo da Ferrugem Asiática, com fins de avaliação sobre resistência ao uso de fungicidas, nesses cultivos dentro do Vazio Sanitário, assim como os riscos fitossanitários que isso representa para os plantios de soja já semeados no Estado de Mato Grosso, com a disseminação/severidade/mutação do fungo da ferrugem asiática da soja. Todavia, ainda não houve respostas”, pontua a entidade.
 
A Aprosoja explica também que esses cultivos dentro do Vazio Sanitário no Tocantins somente estão autorizados para a produção de sementes comerciais pelas Sementeiras, muitas delas, inclusive, oriundas do Estado de Mato Grosso. E também, que as autorizações dadas dentro de Mato Grosso para excepcionalidade de plantio dentro do período proibitivo, só podem ser para melhoradores e sementeiros, tudo, com o aval da Embrapa e órgãos governamentais de controle. Em nenhuma das duas situações há permissão para o produtor produzir sua própria semente.
 
Ainda em sua nota, a Embrapa destaca que nos plantios de fevereiro “o fungo da ferrugem asiática continua presente, originário de lavouras anteriores e continua se reproduzindo, com cada nova geração menos sensível ao controle químico”.
 
“Dentro desse contexto, essa mutação fúngica não poderia estar ocorrendo mais frequentemente nesses cultivos excepcionais dentro do Vazio Sanitário, ou até mesmo nos experimentos de resistência dos fungicidas realizados pelas empresas produtoras destes químicos, as quais, inclusive, fazem parte do Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas (Frac), no qual a Embrapa Soja se apoia para suas manifestações técnicas?” Questiona a Aprosoja.
 
E prossegue a Associação, “o governo do Estado de Mato Grosso, os seus órgãos de agricultura e fiscalização sanitária, assim como o Ministério Público estadual estariam preocupados com essa situação em Tocantins?” Já que o risco fitossanitário afeta não somente este último estado, mas também, estados vizinhos como Goiás, Pará e o próprio Mato Grosso, que iniciam seus plantios normais da safra de soja após a primeira quinzena de setembro, todavia, já com um alto índice de esporo do fungo da ferrugem asiática no ar, tendo em vista o cultivo excepcional dentro do Vazio Sanitário em Tocantins. Afinal, se a própria Embrapa Soja propõe medidas preventivas contra a ferrugem asiática em países vizinhos, tendo em vista que os esporos do fungo migram facilmente com o vento e, estando presentes em um país, podem infestar o outro, o que dirá de estados vizinhos ao Tocantins que têm lavouras de soja em um raio de 150 quilômetros das várzeas tropicais deste estado.
 
Os posicionamentos da Embrapa Soja forçam mais uma vez a Aprosoja questionar, “a serviço de quem essa empresa pública está, do interesse coletivo e da busca pela verdade da ciência, ou de interesses econômicos e políticos?”
 
“Enquanto todos esses questionamentos de relevante interesse para a sociedade e para a comunidade da ciência não forem respondidos, baseados em verdadeiras pesquisas e metodologias científicas, essa dúvida vai pairar no ar. Enquanto não houver uma verdadeira reforma na Embrapa, e mais especificamente na Embrapa Soja, e o orçamento público não cumprir a finalidade para a pesquisa, comprometida com a ciência e não com interesses políticos e econômicos, o ‘elefante branco’ somente aumentará de tamanho, e quem pagará a conta será a sociedade e o contribuinte”, finaliza a Aprosoja.
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