Transformar resíduos do algodão em inovação tecnológica é o desafio que move Jennyfer Angelina Costa Ribeiro, aluna do curso técnico em Têxtil da Escola Técnica Estadual (ETEC) de Campo Verde. Aos 16 anos, ela lidera uma equipe de estudantes que acaba de conquistar bolsas do programa de Iniciação Científica Júnior (IC-Jr), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os projetos aliam nanotecnologia, sustentabilidade e vocação local.
Leia também:
Setor madeireiro busca R$ 50 milhões para evitar colapso pós tarifaço
“Vamos produzir nanocristais de celulose a partir de resíduos da fiação do algodão, materiais que normalmente são subvalorizados. A ideia é transformar esse resíduo em um insumo de alto valor agregado para a indústria e a agricultura”, explica Jennyfer.
O processo envolve etapas como revisão bibliográfica, seleção de métodos para extração e testes com aplicação prática.
Além do avanço científico, os projetos também representam um movimento de valorização das práticas sustentáveis e da presença feminina na pesquisa tecnológica.
“É muito bom ver nosso trabalho sendo reconhecido. Mais do que uma bolsa, isso é um investimento na nossa trajetória. A gente aprende, pesquisa, contribui com a comunidade e abre caminhos para o futuro”, destaca Jennyfer.
Os trabalhos estão sendo desenvolvidos a partir da Mostra Estadual das Escolas Técnicas (MEET), e todos os alunos selecionados cursam o ensino médio concomitante com a formação técnica.
Além de Jennyfer, participam da pesquisa os estudantes Artur Vinícius Miranda Rocha, também do curso técnico em Têxtil; e os alunos do curso técnico em Manutenção de Máquinas Industriais, Eduardo dos Santos Melo Filho, Leonardo Guimarães Busanello da Silva e Guilherme de Almeida Melo, com projetos distintos, mas interligados por um objetivo comum: gerar soluções sustentáveis a partir de resíduos locais.
“Vamos usar métodos científicos em um subproduto da indústria têxtil e, com isso, devolver maior valor”, resume Artur, parceiro na pesquisa com micropó e fibras residuais da fiação.
O estudante Eduardo dá sequência ao trabalho desenvolvendo carbonos fluorescentes, materiais que podem ser aplicados na agricultura para melhorar a eficiência na fotossíntese das plantas. Já Leonardo está focado na produção de hidrogéis biodegradáveis, com liberação controlada de fertilizantes, semelhante ao funcionamento de cápsulas farmacêuticas.
“A cápsula de hidrogel será aplicada no solo e vai liberar o fertilizante aos poucos. Isso evita desperdício e aumenta a eficiência da nutrição das plantas”, explica.
Fechando o grupo, Guilherme aposta no biochar (biomassa rica em carbono que tem propriedades específicas para uso no solo), produzido com resíduos da mandioca, com foco na agricultura familiar.
“Além de ajudar a reter água no solo, o biochar contribui para reduzir o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e fixá-lo no solo. É um tipo de fertilizante com benefícios ambientais e sociais”, afirma.
Todos os projetos têm duração de 12 meses e são orientados pelo professor Dr. Mário Rodrigo dos Santos Soares, que também atua como pesquisador no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT Nano Agro), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
“A iniciação científica júnior possibilita que alunos do ensino médio tenham acesso direto ao método científico, com todas as etapas de uma pesquisa real. E aqui em Campo Verde, esse processo está completamente alinhado às vocações locais e ao fortalecimento da cultura científica nas escolas técnicas”, afirma o professor.
Cada bolsista recebe R$ 300 por mês do CNPq para investir no desenvolvimento dos projetos, que envolve desde a fundamentação teórica até testes laboratoriais. A meta é produzir conhecimento técnico-científico com aplicabilidade direta na agricultura sustentável, uma das frentes estratégicas da ciência em Mato Grosso.
O secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Allan Kardec, destaca que os resultados reforçam o papel da educação profissional como propulsora da pesquisa aplicada. “Estamos diante de uma geração que não apenas aprende, mas produz ciência. A ETEC de Campo Verde já se consolida como um polo de inovação. E ver uma jovem mulher participando desse processo nos enche de orgulho”, afirma.
Para a aluna Jennyfer, é importante ocupar esse espaço. “A ciência precisa de mais meninas pesquisando, inventando e acreditando que podem transformar a realidade com conhecimento”, destaca.