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Cabo de guerra

Arnaldo Luiz Corrêa

 O mercado de açúcar em NY fechou a semana em queda de 25 pontos, com o vencimento março/2013 encerrando a semana a 18,96 centavos de dólar por libra-peso. Todos as telas fecharam no vermelho, com variações entre 4 e 31 pontos negativos, de 1 a 7 dólar por tonelada aproximadamente.

O mercado físico de açúcar segue seu caminho de poucos negócios com a demanda largada e as velhas e surradas noticias fundamentalistas atingindo ao mercado com nova roupagem e renovado sentimento baixista. Na semana, NY atingiu o nível de preço mais baixo dos últimos 26 meses negociando a 18,31 centavos de dólar por libra-peso.

A fraca demanda no mercado de exportação se reflete nos descontos generosos para embarque imediato: 40-45 pontos de desconto mostram o quão desinteressado está o comprador lá fora. E a situação, sem dúvida, lhes é favorável. Para que ter pressa em comprar açúcar num mercado futuro cuja curva de preços está em custo e carrego, com perspectivas de superávit mundial ainda maior que o anteriormente previsto, sem definição alguma sobre o reajuste da gasolina nem sobre a formação de preço do etanol, com a previsão de safra de cana no Centro-Sul para 2013/2014 rondando as 590 milhões de toneladas? Difícil convencer.

Quem poderia dar suporte ao mercado nesse momento é o consumidor industrial. Mas este, tendo em vista o cenário macroeconômico, prefere usar de cautela e faz suas compras sem pressa com um olho na Economia e outro na tela. Compra da mão para a boca, não se preocupa em formar estoques porque tudo indica que se comprar atabalhoadamente corre o risco de pagar caro pela matéria prima. Um trader me informa que os telefones não tocam e a ultima vez que tocaram e ele atendeu era uma mocinha de telemarketing assassinando a língua portuguesa e esbanjando gerúndios.

2013 sinaliza preços mais baixos do açúcar no mercado internacional o que faz com que as usinas mais capitalizadas não percam nenhuma oportunidade em fixar seus açúcares para as telas da próxima safra sempre que os valores em reais ultrapassem a casa dos 1.000. Como me disse um leitor por e-mail, “parece que o mercado só olha para o curto prazo”. É assim mesmo, quando os fundamentos estão fracos qualquer notícia baixista é supervalorizada e mesmo que no longo prazo saiba-se que a maneira como o setor está estruturado hoje, sem novos investimentos e sem transparência, não receberá dinheiro novo, nada disso é levado em conta.

O mercado futuro cai, a volatilidade das opções cai e o desconto no mercado físico aumenta. Uma tripla conjunção de fatores um tanto quanto rara de se ver num mesmo momento. Volatilidade baixa é sintoma de mercado que não inspira proteção, ou seja, cujas oscilações – prevê-se – serão restritas. Se a criminalidade em determinada região cair, o prêmio de seguro patrimonial daquela região também cai, porque as pessoas estarão menos preocupadas em se proteger contra um eventual roubo. Se a volatilidade de determinado mercado cai, isso ocorre porque os vendedores de proteção contra oscilações bruscas tem que oferecer prêmios cada vez menores para atrair possíveis compradores que, por sua vez, não se sentem confortáveis em comprá-las porque acreditam que o mercado não vai oscilar tanto assim. O desconto do físico complementa esse quadro mostrando que o comprador da matéria-prima não tem pressa em adquiri-la e o vendedor se obriga a dar descontos maiores para se livrar do estoque. É um cabo de guerra.

Mencionamos acima acerca do preço mais baixo negociado em NY nos últimos 26 meses. Mas se usarmos reais no lugar de dólares essa comparação se repete? Nem de longe. No mesmo período de 26 meses, veríamos que o valor mais baixo foi 33,10 centavos de real por libra-peso em 6 de maio de 2011 quando NY negociou 20,47 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a 1,6169 reais. Este ano, por exemplo, a média está em 41,12 centavos de real por libra-peso, 9% abaixo da média de 2011 que alcançou 45,08.

Ainda dentro do mesmo período observado, vale a pena destacar que o mercado de açúcar em NY ficou acima do custo de produção (ou seja, remunerou o produto) em 100% das ocasiões. Nos últimos 4 anos NY esteve acima do custo de produção do Centro-Sul em 96,85% das vezes. O custo de produção hoje pelo modelo da Archer Consulting é de aproximadamente 17,50 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, sem custo financeiro. Isso quer dizer o seguinte: pode até ser que o mercado despenque ainda mais já que tudo é possível no mundo das commodities, mas vender abaixo do custo de produção (17,50 FOB Santos) representa 31 chances em 32 de dar errado. E quando foi exitosa, a operação rendeu em média 6,5%, isto é como se o chão absoluto de NY fosse hoje de 16,50 centavos de dólar por libra-peso. Ligeiramente acima que alguns profetas do Apocalipse apregoam.

Um amigo de NY há muito ligado ao açúcar, seja às tradings ou aos fundos, acredita que 2013 “não será um ano fácil para as usinas e deveremos ter consolidações no setor e em algum momento 2014 é pra comprar”. Diz não entender “como o governo brasileiro deixa de lado o melhor (de longe) programa de energia renovável do mundo escapar pelos vãos dos dedos”. Quanto aos fundos, ele acredita que alguns fundos recomprarão suas posições vendidas até o final do ano uma vez que o risco/retorno de mantê-las não é tão atraente considerando o curto prazo. A menos – ressalta – que a tendência do açúcar seja claramente de derretimento.

Se o mundo acabar dia 21 de dezembro, esse terá sido o último relatório da Archer. Caso contrário, voltaremos na semana que vem.
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