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Cavalo pantaneiro, um patrimônio nacional

Leandro Pio

Sou criador e um filho de Poconé, que trabalha incansavelmente para que a raça pantaneira se expanda para o Brasil, mas, sem esquecer as suas origens. Como representante da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Pantaneiro (ABCCP), quero dar continuidade ao trabalho de aperfeiçoamento da raça.  

Para tanto, nós, criadores do Pantanal mato-grossense, trabalhamos sempre frente a muitas dificuldades. No ano passado, além da pandemia da Covid-19, fomos "castigados" com a pior seca registrada quiçá nos últimos 100 anos. Paralelamente, brigamos contra o fogo devastador que destruiu propriedade e matou nosso rebanho.   

Quem não conhece o trabalho do produtor pantaneiro, do homem do campo, que depende da natureza para sobreviver, não entende como é ser julgado como vilão de uma história onde na prática somos verdadeiros heróis e guardiões desse imenso e maravilhoso patrimônio natural, que é o Pantanal.  

O cavalo pantaneiro é excelente para o trabalho com o gado em qualquer região do país. É tão dinâmico, que no Pantanal ele se ajustou aos picos das cheias e secas. Descendente dos equinos trazidos da Península Ibérica para o Brasil, na época da colonização, a raça pantaneira passou por séculos de adaptação em um ambiente dinâmico e complexo, com temperaturas extremas.  

Tornou-se uma raça única, desde 1972, quando foi criada a ABCCP, em Poconé, que possui o papel fundamental no fomento, seleção e melhoramento da raça. O valor genético adquirido no longo processo de seleção natural conferiu ao cavalo Pantaneiro características excepcionais de adaptação, rusticidade e funcionalidade.  

É importante destacar que são animais capazes de resistir a doenças e também expressam bem-estar mesmo estando em locais inóspitos, como no período de estiagem, restrição hídrica e/ou queimadas. São tão resistentes que conseguem atravessar trechos de vegetação mais densa, seus cascos resistem a longas jornadas enquanto se alimentam, dentro de ambientes aquáticos por longos períodos. 

Outro detalhe curioso, é a convivência em harmonia com a natureza, o cavalo pantaneiro consegue se aproximar da fauna silvestre sem causar impacto ou susto. Todas essas características tornam o cavalo pantaneiro generalista e multifuncional, apto a viver e trabalhar nos mais variados ambientes e sistemas de produção.  

Devido à sua versatilidade e características funcionais, o cavalo pantaneiro tem atraído compradores de diversas regiões do Brasil e de outros países, principalmente para ser utilizado na lida do gado. Mas também para atividades como equoterapia, cavalgadas e provas esportivas. A agilidade dele tem estimulado a sua participação em provas de laço técnico, "team penning" (apartação de determinados bois do rebanho) e "ranching sorting" (seleção de gado e direcionamento para cercados/currais). 

Desde o ano passado, temos trabalhado com leilões on-line, o que para a nossa surpresa, vem sendo um sucesso. Em três eventos, alcançamos R$ 3 milhões em vendas de animais, como uma média surpreendente: os garanhões comercializados a mais R$ 29 mil, os machos castrados R$ 10,5 mil e as fêmeas montadas R$ 14,3 mil. Hoje, o cavalo pantaneiro já se destaca no mercado rural brasileiro. 

Quantos somos? Como está o nosso rebanho? Atualmente, há cerca de 5 mil cavalos pantaneiros puros registrados na ABCCP e mais de 130 criadores localizados em 21 sub-regiões. O número total estimado de equinos no Pantanal é 100 mil. Buscamos o sucesso na manutenção e aperfeiçoamento da raça, por meio de parcerias com a Embrapa e as associações regionais. 

O esforço é contínuo para apoiar os criadores no trabalho de melhoria genética da raça, com destaque para novas tecnologias, como manejo nutricional, doma racional e fertilização. Se por um lado agregamos novos conhecimentos advinda da ciência, por outro, como pantaneiro, nós recebemos ensinamos dos nossos antepassados. 

Essa paixão pela fazenda, pelo Pantanal, passa de pai para filho, e vem sendo fundamental para a sobrevivência não só do cavalo pantaneiro, como da natureza. Nosso trabalho na associação visa fortalecer esse vínculo para preservar o Pantanal na sua mais abundante e rica biodiversidade, da qual nós, também fazemos parte.  

 

Leandro Pio, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Pantaneiro (ABCCP) e criador em Poconé (MT) 
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