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O agro é casado com a Mãe Natureza
Autor: Ana Sampaio
04 Jul 2025 - 08:00
Em tempos em que a natureza clama por cuidado e o agro busca reconhecimento pela responsabilidade que carrega, proponho um novo olhar, ou talvez, um resgate simbólico. E se enxergássemos o agro e a Mãe Natureza como um casal? Um casamento de respeito, parceria e geração de vida. Um pacto silencioso e ancestral, firmado todos os dias, em cada nascer do sol sobre uma lavoura, em cada ciclo da chuva que irriga o chão.
A Mãe Natureza é o símbolo da vida que brota. Ela gera, ela protege, ela sustenta. Dá sombra, dá água, dá raiz. O conceito é mais que poético, é visceral. Mãe é quem acolhe, quem alimenta, quem gera frutos sem pedir nada em troca. Assim é a natureza, um ventre fértil que oferece suas riquezas com generosidade. Mas como toda mãe, ela espera respeito. Porque sem respeito, até o amor mais forte se desgasta.
E ao lado dessa mãe está o agro, não como dominador, mas como parceiro. O agro não é destruidor, como tantas vezes tentam pintá-lo. O agro é provedor. Ele cultiva, colhe, transforma. Ele acorda cedo, enfrenta sol, a seca, as pragas e doenças. Enfrenta safras boas e ruins, ideologias e desrespeito. E ainda assim, é ele quem abastece nossas mesas, nossas casas, nossas vidas.
Do café da manhã ao combustível que move a cidade, do batom à roupa que vestimos… Há um pedacinho do agro em tudo. E esse agro que alimenta o mundo é, também, o que mais preserva. Mato Grosso é exemplo, o campeão em produção de grãos do país. Mais de 60% do seu território está preservado e 40% dessas áreas estão dentro de propriedades rurais. Ou seja, o agro mora dentro da natureza e cuida como cuida de um lar. Como em todo casamento, ambos são transformados, mas essa é uma necessidade indispensável para qualquer união duradoura e próspera.
E os números confirmam esse papel de equilíbrio e entrega. O agro representa cerca de 22% do PIB brasileiro quando consideramos toda a cadeia produtiva e responde por mais de 40% das exportações nacionais. É o setor que mais cresce em geração de renda no interior, em bioenergia limpa e em práticas sustentáveis, como o plantio direto que reduz a erosão do solo em até 97%. Além disso, cerca de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas foram recuperados e transformados em novas áreas produtivas nos últimos anos, sem necessidade de derrubar um hectare sequer de vegetação nativa.
Quando agro e natureza se respeitam, o resultado é o que a gente vê no dia a dia. E os frutos desse casamento vão muito além do que se colhe dentro da porteira. São os empregos no campo, o desenvolvimento das comunidades, a permanência das famílias no interior, o equilíbrio dos ecossistemas, respeito aos povos originários.
Os filhos desse amor também são muitos. É o cerrado que respira, a floresta que se mantém em pé, os animais que circulam, as pessoas que se alimentam, o Brasil que cresce. Esse casamento é, acima de tudo, fecundo. E como todo relacionamento verdadeiro, exige escuta, diálogo e compromisso para que ajustes sejam feitos todos os dias.
É por isso que eu comunico o agro. É preciso contar essa história. Mostrar que agro e natureza não são lados opostos, mas lados do mesmo coração. Cabe à comunicação ser essa ponte que liga o campo à cidade e traduzir essa aliança em palavras, imagens e ações.
Contar que há tecnologia no campo, mas também tradição. Que há produção, mas também preservação. Que há lucro, mas também responsabilidade. E que o agro moderno não avança sobre a natureza, ele caminha junto com ela.
É tempo de transformar o olhar. De entender que o agro não é o vilão dos tempos modernos, mas um dos maiores aliados da sustentabilidade. Que a Mãe Natureza não está sozinha, ela tem um parceiro que, respeita seus ciclos e floresce junto.
Somos todos filhos desse casamento. E, como filhos, temos a missão de zelar por essa união. Porque dela vêm os frutos que alimentam o corpo, a alma e o futuro do planeta.
Ana Sampaio é jornalista especializada em comunicação estratégica no agronegócio. Fundadora da Culture Comunicação, atua em Mato Grosso conectando o campo à cidade com informação, propósito e identidade agro