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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Entrevista

“Não somos mais um patinho feio”, declara Eraí Maggi sobre a importância de MT

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto e Viviane Petroli/Agro Olhar

“Não somos mais um patinho feio”, declara Eraí Maggi sobre a importância de MT
Considerado 'rei da soja' brasileiro, Eraí Maggi declara que o Brasil precisa de Mato Grosso tanto no quesito produção de alimentos, como para a geração de renda e de economia em outras regiões do país. Em entrevista exclusiva ao Agro Olhar, o produtor e um dos proprietários do Grupo Bom Futuro comentou ainda que não acredita que o Estado vá ter perdas de produtividade na soja por conta do atraso do plantio e que os produtores mato-grossenses precisam estar atentos ao mercado.

Outro ponto frisado por Eraí Maggi é quanto à transformação de grãos para virar carne, o que ajuda, inclusive, em uma diminuição significativa do frete.

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Confira abaixo a entrevista com Eraí Maggi:

Agro Olhar - Como o senhor está vendo em 2014 o andamento do agronegócio aqui em Mato Grosso e também no Brasil diante de produções recordes?

Eraí Maggi - Realmente é um pouco preocupante com relação aos preços. As commodities estão com estoques muito altos, produziu muito nos Estados Unidos. A Argentina ainda tem boa parte para comercializar. Mas, a gente também sabe que nós temos nesse negócio não é de hoje, são 40 anos que estamos nesse negócio aproximadamente. É assim anos bons, anos ruins e queima a gordura do ano que ganhou, então o produtor que investiu um pouquinho, bastante, pode ter um pouquinho de dificuldade, tem que ter um pouco de cuidado, mas da mesma forma que a gente espera que possa ser dois ou três anos para passar essa dificuldade já pode acontecer uma chuva, uma seca, uma chuva mais, uma colheita como está acontecendo agora para aproveitar este piquesinho (Estados Unidos) ou uma seca como costuma dar no Sul do país como costuma dar e na Argentina oportunidades e já vem o plantio deles (Estados Unidos) em abril de novo e pode dar uma sequinha. Então, o mercado antecipa os fatos, ele comercializa 10 vezes mais do que se produz na bolsa. Tem muita oportunidade e quem produz tem que ter esse cuidado para quando tiver uma oportunidade de não estar tendo prejuízo, estar realizando algum lucro, está fechando negócio. A gente vê isso como algo normal. Não é só subindo que o mercado fica. O mercado tem isso desde que é mercado, por isso que tem bolso, que tem mercado. Ele é assim mesmo. O produtor precisa ficar atento.

Agro Olhar - Como é que o senhor está vendo está questão do dólar? No dia 24 de outubro fechamos em queda nos patamares de R$ 2,45 e no dia 27 de outubro, pós-eleição de 2° turno presidencial, chegou a amanhecer com alta de mais de 4% alcançando R$ 2,56. Essas altas do dólar e também baixas como é que o setor produtivo está vendo? Quais são os lados bons e ruins do dólar em aumento?

Eraí Maggi - O dólar realmente flutua bastante. Ele já chama-se dólar flutuante, então ele se antecipa aos fatos, antecipa as notícias, aos boatos. Há boatos que vamos ter dificuldades na economia do país e o dólar vai lá para cima, tem que aproveitar. Tem que cuidar para aproveitar os boatos para ir fechando. Eu acredito que hoje é um boato esse dólar estar um pouco valorizado. É um momento de aproveitar e ir fixando para real, fazendo o câmbio antecipado que tem mecanismo, tem ferramenta para isso. O produtor hoje tem muita ferramenta disponível que pode usar para isso.

Agro Olhar - Aqui em Mato Grosso, no Paraná e no Mato Grosso do Sul são os exemplos que mais estamos vendo quanto à seca no período do plantio da soja. Em contra partida os Estados Unidos que está em momento de colheita está com chuva e não consegue colher em alguns momentos. Como o senhor vê essa diferença, nós mesmos atrasados podemos ter algum benefício com essa questão da chuva nos Estados Unidos?

Eraí Maggi - Olha, nós estamos plantando aqui há quase 40 anos no Mato Grosso e esse atraso da chuva já tivemos isso em vários anos. Não é o primeiro ano que temos este atraso. Eu vi atrasar e se alongar por mais dias inclusive. É o tal do boato. Vamos ter problemas, vamos ter menos produção, menos produtividade. Não acredito, porque tivemos aí 15 dias de pouco chuva, mas o produtor está equipado com muita máquina. Esse governo proporcionou ao produtor se equipar muito. Há um potencial de máquina muito grande e é só dá uma aproveitadinha no tempo aí que ele vai tocar um pouquinho de dia e um pouquinho à noite e vai antecipar um pouco esse atraso. Vai dar uma acelerada. Não acredito que nós tenhamos quebra de produtividade por causa deste clima. São os tais dos boatos.

Agro Olhar - Como o senhor acredita que o mercado vá se comportar em 2015? Como o senhor acha que será a nossa produção, não apenas a agrícola, mas também a pecuária, uma vez que Mato Grosso é forte neste quesito também?

Eraí Maggi - Nós temos aqui a soja e se temos um atraso nela podemos ter um atraso no plantio da safrinha do milho (2ª safra), aí vem o algodão que é praticamente toda uma segunda safra. Então, nós temos aí soja, algodão e milho e pouco, realmente, aves, além de gado no geral. É uma equação muito engraçada, porque na hora que tá ficando ruim para os preços dos cereais, está ficando bom para a carne, se produz carne mais barata. Então, no momento em que estão bons os cereais, que estão caros os grãos, a carne tem um resultado menor para quem produz e vice-versa. É uma equalização ter produção de carne e produção de grãos você está ganhando num e perdendo em outro é vice-versa. Acredito que nem sempre está ruim. Você tem uma cesta de produto. Soja, algodão, milho, carne. Acho que o produtor não tem problema ele estar diversificado um pouco, ele deve ir se atentando para o futuro e diversificar, se preocupar em saber esse milho tem que se transformar, porque para tirar esse milho dessa distância, principalmente, de um país no hemisfério Sul, como o Brasil, nós estamos muito no canto. Se pensar em globo nós estamos muito fora. O produtor aqui não deve se preocupar apenas em produzir e sim pensar, também, em transformar estes cereais para a carne que auxilia na redução do frete.

Agro Olhar - Como o senhor avalia as exportações? Neste ano elas estão em baixa. Como o senhor está vendo estes embarques tanto nacional quanto Mato Grosso e também as projeções de como acredita que seja o próximo ano, ainda mais com um "novo" governo?

Eraí Maggi - Eu acredito que esta mudança é pequena. Nós vamos continuar exportando um número legal. O que ajuda muito a economia interna é um câmbio (dólar) valorizado. O real desvalorizado ajuda um pouco. Eu entendia que nós tínhamos um real muito valorizado R$ 2, R$ 2,20, este patamar é muito valorizado. Se nós tivermos um real desvalorizado para R$ 2,60, numa casa aí que dá para fixar no futuro, o produtor tem que aproveitar esta ferramenta que é uma ferramenta legal, dá para ele colocar uma boa margem de lucro em cima da sua produção antecipando o câmbio, aproveitando estes momentos, porque se hoje está R$ 2,50 lá na frente estará R$ 2,60, R$ 2,70 mais para o fim do ano ou meio do ano. Então, o produtor tem de usar também desta ferramenta, que seria o certo para um câmbio estar acima de R$ 2,60 que viabilizaria mais o processo para trabalhar aqui para dar mais força para nós exportarmos.

Agro Olhar - O senhor hoje é produtor de piscicultura com o Grupo Bom Futuro. Gostaria de saber como o senhor está vendo a piscicultura hoje aqui em Mato Grosso?

Eraí Maggi - É uma atividade boa. Nós, Grupo Bom Futuro, nos preocupamos muito em transformação de grãos para carne, peixe, gado, nós fazemos muita integração Pecuária-Agricultura, fazemos muito o confinamento, o semi-confinamento e também fazemos a variação do peixe também. Isso tudo no intuito de transformar para reduzirmos o frete. Reduzimos o frete no peixe em dois para um, reduz o frete no gado de seis para um. É a conversão do que o animal come para virar um quilo de carne, então você tem uma redução de frete e agrega valores, gera emprego e é uma forma de achar uma saída para essa nossa produção com toda esta dificuldade de escoamento que ainda se tem em Mato Grosso. Está andando bem a questão de logística, mas ainda há muito que se concluir, para terminar e graças a Deus tem andando, porém tem de andar mais.

Agro Olhar - Como o senhor pretende fazer a interlocução entre o setor produtivo, o governador eleito Pedro Taques e a presidente reeleita Dilma Rousseff? Como pretende auxiliar nesta interlocução?

Eraí Maggi - É muito fácil. Estamos acostumados a trabalhar e a trabalhar nesta área há muitos anos. É uma questão de gostar, de conversar, dar acesso, mostrar o outro lado. Agora nesta campanha eu trabalhei muito com o nosso governador Pedro Taques e nós vemos a vontade que ele tem, ele não guarda nada disto e tem uma facilidade muito grande para trabalhar, como ele é parlamentar nós temos facilidade de conversar isso e entender e já passar para frente, nada de ficar olhando para trás. Com o governo federal também, ele sabe que precisa desta produção. Que precisa deste alimento que, hoje, a Bolsa Família que tanto, talvez, nós criticamos lá no começo há 10 anos, nós vemos o que está resolvendo a questão da nossa produção. A produção de alimentos que produzimos tem que ter o consumo e a Bolsa Família e o governo federal precisam desta produção, precisa de alimento barato. Eu acredito que não teremos dificuldade nenhuma de fazer está interlocução com o governo federal, com o governo do Estado, porque precisa muito. O governo federal precisa muito deste nosso alimento para ele levar este alimento para o Nordeste, aonde ele foi tão bem votado, levar este alimento bom, barato e saudável. O nosso alimento é barato aqui no Brasil, pois o governo nos deu condições que barateou muito os nossos alimentos e por outro lado precisamos de uma ponta que compre e o governo federal fez isso muito bem lá fora, também. O governo federal precisa de Mato Grosso, ele precisa deste alimento e nós precisamos produzir e de alguém que compre, escoe este alimento. Essa questão de logística é uma coisa que já está plantada, você hoje no DNIT, no Ministério do Transporte e demais Ministérios e vê que está muito claro que está bem vendida essa necessidade de ter a nossa infraestrutura no Mato Grosso. Nós não tínhamos isso, era ignorado. Mato Grosso era um problema para o Brasil e hoje se mostrou que o Mato Grosso não é um problema para o Brasil, não é mais uma solução para o país e sim uma grande solução para o Brasil e o Mundo fazendo alimentos. Hoje, para girar o Sul, Sudoeste com máquinas, fertilizantes, peças ou qualquer coisa de fábrica, como caminhão, silo, tudo que precisa girar lá e gerar emprego e renda no Sul e Sudoeste precisa do Mato Grosso para consumir este equipamentos para produzir e fazer alimentos para ir para o Nordeste, para exportação, para a balança comercial. Hoje, não somos mais um patinho feio e também mostramos que produzimos e temos boa produtividade em relação ao resto do mundo. Você vê o algodão. Antes erramos grande importador de algodão e hoje somos grandes exportadores, o segundo no mundo já em exportação com uma qualidade muito boa se comparada ao algodão de Memphis, ao algodão do Texas, da Austrália.
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